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 NOTÍCIAS 

Nosso adeus a Nina Pereira Nunes

Bruno C. Dias

Um espírito inquieto, atencioso e comprometido com a transformação social brasileira. Essas são algumas das palavras que descrevem a personalidade de Nina Vivina Pereira Nunes, que em 20 de junho encerrou sua trajetória em vida, aos 78 anos.

Filha do também médico Adão Pereira Nunes e de Alaíde Pereira Nunes, Nina trouxe a preocupação com a sociedade de casa. Seus pais foram militantes das causas sociais e eram ligados a Luiz Carlos Prestes. A referência familiar falou alto também na escolha profissional, vindo a cursar Medicina no Rio de Janeiro e participar ativamente do movimento estudantil efervescente na época.

Já formada, tornou-se discípula de Américo Piquet Carneiro, médico e professor da então Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado da Guanabara – FCM/UEG. Junto ao mestre, Nina iniciou o trabalho pioneiro de medicina comunitária no Rio de Janeiro, num processo de abertura do ambulatório do Hospital Pedro Ernesto junto às comunidades da então favela do Esqueleto e do Morro dos Macacos. Sob as trevas do período da ditadura civil-militar de 1964, o projeto foi considerado subversivo e foi investigado por um inquérito civil-militar.

Piquet Carneiro mantinha estreito contato com os pesquisadores e gestores latinos e norte-americanos ligados à Organização Panamericana de Saúde (OPAS), e estimulou três de seus melhores alunos a fazerem pós-graduações no exterior e entrarem em contato com a produção de novos conhecimentos no campo da medicina, que trazia um olhar às questões humanas para além da visão determinista da biologia. Ao retornarem, Hésio Cordeiro, Nina Pereira Nunes e Moisés Szklo fundaram o Instituto de Medicina Social no final de 1970. Quatro anos depois, seria lançado o programa de pós-graduação do IMS, que celebrou 40 anos em 2014.

Ao IMS, Nina dedicou sua carreira, estimulando e arregimentando jovens médicos e pesquisadores a se abrirem para as inter-relações da medicina com as ciências sociais e demais campos das ciências humanas. Além dos trabalhos acadêmicos, ela dedicou-se à luta política em prol dos presos políticos e exilados da ditadura civil-militar, participando de diversos atos e manifestações. Com a abertura democrática, juntou-se ao grupo de lideranças capitaneados por Leonel de Moura Brizola e Darcy Ribeiro na fundação do Partido Democrático Trabalhista – PDT.

Para Eduardo Faerstein, professor do IMS/Uerj e chefe do Departamento de Epidemiologia da instituição, a personalidade inquieta e fascinante de Nina Pereira Nunes, assim como seus fortes compromissos com a saúde populacional, influenciaram a formação de muitos profissionais da Saúde Coletiva. “Poucos entre os atuais docentes do IMS conheceram Nina, e um número ainda menor conviveu com ela, pois infelizmente, problemas de saúde a afastaram gradualmente de nosso convívio. Fui um desses privilegiados, um dentro de grupo de vários que tiveram essa oportunidade e tornaram-se monitores e, posteriormente, docentes do Instituto, de diversas instituições acadêmicas e profissionais de serviços de saúde, com os quais ela sempre buscava conexões em seus projetos. Fica a tristeza. Descanse em paz, querida Nina”.

Convidamos a comunidade científica ajudar a escrever a biografia de Nina Pereira Nunes por meio de depoimentos a serem deixados abaixo, no campo dos comentários, e que servirão para registrar a história de uma das pioneiras do campo da Saúde Coletiva.

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