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Passado, presente e futuro da Saúde Coletiva em 35 anos da Abrasco

Não era para ser apenas uma das celebrações que estão previstas para o ano de 2014 – e não foi – em comemoração aos 35 anos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. A sessão especial realizada no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, na última sexta-feira, dia 23, reuniu pesquisadores, estudantes, sanitaristas e professores para olhar o passado, refletir sobre o presente e vislumbrar um futuro para as ações em prol da Saúde Coletiva brasileira. “É raro ter um momento como esse em que podemos reunir tantos nomes e amigos importantes, participantes do processo de construção da Abrasco nesses 35 anos”, disse Nísia Trindade, vice-presidente de Ensino, Comunicação e Informação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Temos muitos desafios, entre eles, o novo sentido de democracia nos dias de hoje, e ao mesmo tempo, precisamos sempre recuperar a memória por meio de nossa trajetória”, completou.

Para compor a mesa, foram convidados Ligia Vieira, Jairnilson Paim e Sebastião Loureiro, todos pesquisadores da Universidade Federal da Bahia. “Uma viagem no tempo, passando pelo presente e a grande possibilidade de pensar o futuro”, ressaltou Nísia, reafirmando o compromisso de as comemorações dos 35 anos da Abrasco serem momentos para essas reflexões. Para isso, Ligia Vieira, começou apresentando o projeto “O Espaço da Saúde Coletiva”, que trouxe um panorama da construção do campo da Saúde Coletiva no Brasil, com seus contextos históricos, sociais e políticos, e seus personagens notáveis. “Por que mais um estudo sobre a Saúde Coletiva?”, uma pergunta que não foi apenas lançada ao público, mas também para revelar a pertinência da investigação. Nesse sentido, Ligia sinalizou conceitos desenvolvidos durante uma trajetória de pouco mais de 50 anos, como os de “higiene”, “prevenção”, “saúde pública” e “saúde coletiva”, segundo a pesquisadora, o último conceito foi concebido por Jairnilson Paim.

“Por que tantos personagens se envolveram com a Saúde Coletiva?”, questionou Ligia. Para ela, havia disposições políticas, o desgosto com a noção e as práticas relacionadas à higiene e o gosto pela pesquisa. Com resultados bastante ricos, o estudo desenvolvido por muitos pesquisadores da UFBA, considerou que a Saúde Coletiva é um espaço que tem como projeto constituir-se como um campo de saberes e práticas, que diferencia-se da Saúde Pública institucionalizada, da Medicina Preventiva, da Higiene e da Clínica embora incorpore diversas continuidades. “Seu sub-espaço científico consolidou-se porém em disputa com os campos e disciplinas de fronteira, principalmente com a clínica e as ciências sociais”, disse Ligia. O estudo apontou também que seu sub-espaço das práticas é amplamente dominado e influenciado pela saúde pública institucionalizada, embora seu principal projeto social transformador seja continuamente retomado e renovado dependendo dos destinos dos projetos coletivos oriundos do campo político relacionados com a transformação da sociedade brasileira.

Fazendo uma ponte direta com o I Encontro Nacional de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, realizado em Salvador, em 1978, Jairnilson Paim ressaltou que o evento foi muito mais que um encontro acadêmico, mas também político. “É preciso destacar que os jovens tiveram grande protagonismo. Mas que processo foi esse que resultou no que temos hoje? Um processo importante que fez constituir vários sujeitos dessa história”, afirmou. Numa participação breve, mas marcante, Paim comentou os marcos da construção da Abrasco e disse que a fundação da Associação não foi protagonizada por apenas uma ou outra instituição. De acordo com Paim, foi nesse encontro, ocorrido em abril de 1978, que se começou a rascunhar os primeiros pontos de uma ata de fundação. “Estavam em todos os lugares. O processo de criação da Abrasco aconteceu em muitas instâncias, portanto, sem um lugar específico”, pontuou.

Sebastião Loureiro, presidente da Abrasco entre 1985 e 1987, conheceu Sérgio Arouca quando foi fazer residência em Medicina Preventiva na USP/Ribeirão Preto, na década de 1960. Loureiro afirmou que a trajetória da Saúde Coletiva no Brasil foi um movimento organizativo, político, social e com grande participação dos diretórios acadêmicos de Medicina. “É preciso destacar que a maioria foi militante do Partido Comunista Brasileiro, que tínhamos uma visão de composição política de esquerda e nos caracterizávamos como uma rede de discussão política. Nesse período embrionário, ainda havia um conceito limitado de medicina Preventiva e ainda menos de Saúde Pública”, contou. Para Loureiro, as atividades iniciais da Abrasco foram de caráter mais acadêmico e só depois do 1º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, na UERJ, em 1986, o cunho político das suas ações passou a ser mais expressivo. O ex-presidente destacou, ainda, que o processo da 8ª Conferência Nacional de Saúde foi decisivo para transformar a Abrasco em ator com uma atuação marcante na política de saúde: “A Abrasco é muito mais inclusiva que qualquer outra associação, talvez pela sua interdisciplinaridade. É mais aberta para absorção de projetos e de ações que fortaleçam a sua bandeira de luta que é a Saúde Coletiva”, concluiu.

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