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Revista Isto É ouve especialista da Abrasco sobre epidemia do Ebola

Vilma Reis com informações Cilene Pereira e Helena Borges - Revista Isto É

A Revista Isto É publicou matéria sobre o vírus Ebola e o que pensam os especialistas sobre a possibilidade de um surto da doença no Brasil. A reportagem (Editoria Medicina & Bem-estar, Edição 2333 de 8 de agosto de 2014) ‘Cerco ao Ebola’ diz que a Organização Mundial de Saúde declara a epidemia uma emergência mundial e que o Brasil e o mundo se preparam para se proteger do vírus, que já matou quase mil pessoas até agora na África.

Entre autoridades de saúde e estudiosos, no entanto, é consenso que o risco de o Ebola chegar ao Brasil é baixo. Várias explicações sustentam a previsão. Uma é de ordem científica. “Todos os elementos da cadeia epidemiológica de transmissão do vírus estão na África. Aqui não existem animais que possam carregá-lo”, afirma Crispim Cerutti Junior, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Ele se refere a espécies de morcegos que servem de reservatórios do Ebola.

 

 

Confira a matéria na íntegra:

A epidemia de Ebola que castiga os países africanos Serra Leoa, Guiné e Libéria ganhou contornos ainda mais preocupantes na semana passada. Na sexta-feira 8, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. A OMS considera a atual epidemia um evento extraordinário. “É a mais complexa de toda a história da doença”, disse a médica Margaret Chan, diretora-geral da instituição. Na avaliação da entidade, as possíveis consequências da internacionalização da epidemia são sérias, particularmente em vista da agressividade do vírus.

É a terceira vez nos últimos anos que a OMS determina uma emergência mundial. Em 2009, a pandemia de gripe causada pelo H1N1 recebeu a classificação e, em maio, foi a vez da ameaça da volta da poliomielite a países nos quais a doença está erradicada. Em relação ao Ebola, a entidade não determinou a proibição de comércio com as nações atingidas ou de viagens internacionais a esses locais, mas recomendou aos governos que informem os viajantes com esses destinos sobre como minimizar os riscos de contaminação. Além disso, orientou que os países estejam preparados para detectar casos e tratá-los e que tenham planos para repatriação de cidadãos que foram expostos. Nos países afetados, referendou a necessidade de submeter a exames pessoas com sintomas que passem por aeroportos, portos e postos fronteiriços e da aplicação de medidas efetivas de proteção dos profissionais que lidam com os doentes. Os pacientes não devem deixar seus países, salvo se for para receber tratamento médico em outro país.

A OMS quer reunir esforços para conter a epidemia, que até agora não deu sinais de arrefecimento. Até sexta-feira, haviam sido registrados 1.711 casos e 932 mortes. O sinal mais importante de que ela pode se espalhar ainda mais foi a confirmação de nove casos na Nigéria, país de porte muito maior do que as nações atingidas até então e também com relações muito mais intensas com o resto do mundo. Além disso, um homem morreu na Arábia Saudita com sintomas, outras duas pessoas estão sendo monitoradas na Inglaterra e em Benin, na África, e na Tailândia 21 turistas também estão sob observação.

Diante da ameaça, o mundo reagiu. A Nigéria começou a montar centros de atendimento de urgência. Na Libéria, soldados impedem que moradores de áreas atingidas cheguem à capital, Monróvia. Na Espanha, foram adotadas todas as precauções no transporte do padre Miguel Pajares da Libéria a Madri, onde está internado depois de se contaminar. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, considerado a maior referência do mundo no combate a doenças infectocontagiosas, elevou o surto para nível 1 de alerta. Postos de quarentena estão montados em portos, aeroportos e postos de fronteira de 20 cidades e aumentou o número de funcionários no Centro de Operações de Emergência, que rastreia casos.

No Brasil, na sexta-feira 8 o ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciou que indivíduos das áreas afetadas que manifestem desejo de vir ao Brasil passarão por triagem médica antes de embarcar. “Reforçaremos a vigilância epidemiológica do viajante”, informou. A OMS, porém, não tem nenhuma recomendação nesse sentido. Além disso, serão colocados nos aeroportos avisos a passageiros que estiverem febris para que procurem postos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes, na quarta-feira 13, Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, reuniu-se por videoconferência com os secretários estaduais de saúde para reforçar as medidas a serem adotadas em caso de suspeita de infecção (leia mais no quadro à pág. 70). O trabalho deve ser feito de forma coordenada entre os serviços de vigilância sanitária, especialmente os localizados em portos e aeroportos, e os hospitais de referência no tratamento de doenças infectocontagiosas para onde seriam levados os pacientes. Cada Estado deve ter uma instituição com esse perfil. “É preciso ter leitos isolados. E qualquer instituição de referência em enfermidades transmissíveis tem um”, disse Barbosa. O Ministério também enviou às secretarias uma cartilha com as orientações.

Em São Paulo, profissionais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas – uma das principais referências em atendimento de moléstias infecciosas do País – vêm se aprimorando para a eventualidade de receberem um caso. “Estamos treinando novamente todos os que podem entrar em contato com esse tipo de paciente”, disse o infectologista Ralcyon Teixeira, chefe do Pronto-Socorro da instituição. Por lá, o paciente seria recebido no serviço de emergência e depois internado em um leito na UTI (são 17). “Nossos leitos são equipados com um sistema no qual o fluxo de ar que sai do quarto é purificado para evitar que o ambiente seja contaminado”, explica o médico. “E o ar do quarto é filtrado e purificado.” No caso do Ebola, a transmissão não ocorre pelo ar. Por isso, os médicos dizem que, se a demanda por leitos aumentar, é possível colocar os contaminados em quartos comuns. “O essencial é que o doente seja internado em leito sozinho e com acesso limitado de pessoas”, afirma Teixeira.

Entre outras questões repassadas no Emílio Ribas estão coisas como decidir que avental impermeável usar para evitar a contaminação do profissional. Eles têm dois: um verde e um branco. Optaram pelo branco, mais resistente. Eles vestirão ainda macacão e bota impermeável, máscara e proteção para o rosto com viseira e dois pares de luvas. Relembraram ainda a importância de registrar o nome de todo profissional que tiver contato com o doente ou entrar em seu ambiente e bem como o horário da visita. É uma precaução para que essas pessoas sejam monitoradas se surgir algum problema.

Entre autoridades de saúde e estudiosos, no entanto, é consenso que o risco de o Ebola chegar por aqui é baixo. Várias explicações sustentam a previsão. Uma é de ordem científica. “Todos os elementos da cadeia epidemiológica de transmissão do vírus estão na África. Aqui não existem animais que possam carregá-lo”, afirma Crispim Cerutti Junior, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Ele se refere a espécies de morcegos que servem de reservatórios do Ebola. Outra diz respeito ao nível de perícia dos profissionais envolvidos no atendimento a males contagiosos. Desde 2011, por exemplo, há treinamentos de vigilância epidemiológica visando a grandes eventos. “As simulações de incidente biológico incluem o caso Ebola”, diz a infectologista Otília Lupi, da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.

Além disso, há uma experiência significativa armazenada no trato de pacientes com doenças infecciosas sérias, como a Aids. “No Brasil, é inadmissível hoje um enfermeiro manusear um paciente sem luvas ou usar agulhas que não sejam descartáveis ou esterelizadas”, diz Otília. Isso é importante porque, no caso do Ebola, a transmissão ocorre pelo contato direto com sangue, excreções ou secreções da pessoa infectada ou com objetos contaminados. Outro aspecto levantado é a existência de grandes diferenças culturais entre o Brasil e os países onde ocorre a epidemia. Na África, muitas famílias mantêm os pacientes em casa, o que facilita o contágio dos outros moradores. E insiste-se no ritual de velório que inclui a lavagem do cadáver à mão e sem luvas.

Há, porém, inquietações. “Nosso temor é a epidemia se expandir em direção a países com maior conexão com o Brasil, como Angola. Aí sim estaríamos em risco de o vírus chegar”, diz Otília. Não se pode esquecer, também, que a conexão do País com a Nigéria, onde já há infectados, também é considerável.

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