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Rosana Onocko lança livro Psicanálise & Saúde Coletiva: interfaces

Compreender os desejos dos indivíduos e os contornos das subjetividades é tão importante para o campo da Saúde Coletiva quanto às quantificações epidemiológicas ou as interações das políticas públicas nos diversos grupamentos da sociedade. É o que defende a professora-doutora Rosana Onocko Campos, que lança nesta terça-feira, 25 de junho, o livro Psicanálise & saúde coletiva: interfaces, na Casa do Lago, no campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

 

A obra, uma coletânea de textos inéditos e já publicados, é fruto dos trabalhos do grupo de pesquisa Saúde Coletiva e Saúde Mental: Interfaces, coordenado por Rosana na mesma Universidade desde 2003. Segundo a pesquisadora, a importância da troca de conhecimentos desses dois campos amplia as visões acerca das necessidades em saúde dos homens e mulheres, além de oferecer novas ferramentas para a análise das instituições públicas. “Não se trata de transformar os trabalhadores de saúde em psicanalistas, mas de poder trazer as contribuições deste campo disciplinar ao estudo das instituições, seus funcionamentos e disfunções, bem com melhorar o entendimento do sofrimento que muitas vezes causam aos trabalhadores”.


O site Abrasco conversou com a autora – atualmente membro do Conselho Diretivo da Abrasco, Rosana Onocko Campos é formada em Medicina na Universidade Nacional de Rosário, Argentina, e com mestrado e doutorado em Saúde Coletiva pela Unicamp. Confira a entrevista.
 

 

Abrasco: Qual a importância da obra no cenário de debates e/ou produção científica em saúde coletiva?

 

Rosana Onocko Campos: A Saúde Coletiva se organizou como campo de conhecimento e de práticas a partir da incorporação das Ciências Sociais. O campo da subjetividade foi menos importante nos seus primórdios, enquanto vigoravam as ênfases em estudos estrutural-marxistas, e foi ingressando logo a partir dos anos oitenta da mão de referenciais de cunho interpretativo. Contudo, procuro mostrar nessa coletânea como o campo do inconsciente (assim como desenvolvido por Freud e seus seguidores) ficou de fora nas análises da Saúde Coletiva e como e por que sua incorporação seria de valor em nosso campo nas épocas atuais. O livro é uma coletânea de textos inéditos e de outros já publicados no Brasil que abarca os efeitos subjetivos das políticas públicas, a recalcada dimensão ideológica da subjetividade e se encaminha para a análise de efeitos subjetivos de formas específicas de organização dos serviços, a releitura de textos clássicos de Freud para enfrentar questões clínicas em serviços substitutivos e a apresentação de uma forma de operar com supervisão clínico-institucional.
Abrasco Notícias: A Psicanálise sempre foi vista como um instrumental teórico-prático voltado às classes e pessoas de maior poder aquisitivo, enquanto as questões psiquiátricas (logo medicamentosas e, muitas vezes, calcadas em práticas hoje questionáveis) voltadas à população em geral. A senhora concorda com essa clivagem ou acredita em outras possibilidades desse campo disciplinar para a Saúde Coletiva?

 


Rosana Onocko Campos: Nos capítulos mais clínicos do livro mostro exemplos bem práticos de como a teoria psicanalítica – e, sobretudo, a ética que a embasa – poderiam contribuir com os nossos serviços públicos de saúde, seja na Saúde Mental ou na Atenção Primária. Não se trata de transformar os trabalhadores de saúde em psicanalistas, mas de poder trazer as contribuições deste campo disciplinar ao estudo das instituições, seus funcionamentos e disfunções, bem com melhorar o entendimento do sofrimento que muitas vezes causam aos trabalhadores. Acredito que seja uma importante referencia para enfrentar a medicalização da vida e da pobreza que vários estudos já apontaram. Agora, para isso acontecer e preciso também recusar certa versão da Psicanálise que se apresenta como hermética e da pura interioridade, uma espécie de clube exclusivo.

 


Abrasco: Essa abertura da Saúde Coletiva à Psicanálise inclui também às discussões do sujeito e das esferas individuais?

 

Rosana Onocko Campos: Há uma contribuição original e importante da Psicanálise ao mundo da vida, que foi marcante do findo século XX. As consequências de sua entrada na cultura não estão esgotadas, pelo contrário, poderiam ser exploradas no caso particular da Saúde Coletiva. Penso haver uma certa presa pós-moderna em anunciar a morte do sujeito, que pouco tem contribuído com o esclarecimento das questões mais atuais de nosso campo. Acho que isso se deveu a dois fatores pelo menos: por um lado à rejeição essa Psicanálise do clube privado e, por outro, o forte peso da Sociologia como principal disciplina do campo das Ciências Sociais na Saúde Coletiva ao ponto de ser tomada muitas vezes como “a” única ciência social que interessaria.

 

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