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 NOTÍCIAS 

A saúde bucal dos brasileiros

Paulo Capel Narvai

Desde os anos 1980 o Brasil vem realizando, periodicamente, levantamentos epidemiológicos de abrangência nacional na área de saúde bucal. Esses inquéritos populacionais têm gerado bases de dados a partir das quais vêm sendo produzidos estudos e análises sobre a situação do País nesta área, publicados no Brasil e no exterior, de valor inestimável. O que é notável nessa experiência brasileira é que ela só encontra paralelo em pouquíssimos países do hemisfério norte. Em nenhum caso, porém, a realização desses inquéritos epidemiológicos envolve, em abrangência e profundidade, profissionais vinculados aos serviços públicos de saúde – vale dizer em nosso caso, profissionais vinculados ao SUS. Estes, em número que gira em torno de uns 2 mil profissionais, atuando em articulação com pesquisadores universitários, vêm produzindo dados sobre saúde bucal que têm possibilitado desenvolver conhecimento epidemiológico de altíssima qualidade, contribuindo significativamente para aprimorar e direcionar as intervenções de saúde pública no setor.

 
Em 2010 o Ministério da Saúde (MS), sob gestão da Coordenação Geral de Saúde Bucal (CGSB) e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), realizou a mais recente edição desses levantamentos, a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, conhecida como SB Brasil 2010. Convidado pela CGSB do MS integrei o grupo técnico incumbido de planejar, organizar e executar o SB Brasil 2010, assumindo a gestão financeira do inquérito. Concluída a pesquisa, fui convidado pela Revista de Saúde Pública (RSP) para ajudar a organizar uma edição especial do periódico destinada a publicar artigos criados a partir da base de dados do SB Brasil 2010. Nessa condição de editor associado ad hoc da RSP, participei e acompanhei bem de perto o trabalho realizado pelos professores José Leopoldo F. Antunes, da FSP, e Angelo Roncalli, da UFRN, com os quais compartilhei a organização da edição temática que, embora tenha data de 2013, está sendo lançada agora, em fevereiro de 2014. São vários artigos – 19 para ser mais preciso – que resultam do esforço intelectual de muitos autores, com origem institucional em diferentes universidades e institutos de pesquisa do País. Em editorial da RSP, que assinei com estes colegas, chamamos a atenção para esta edição, afirmando que nela estão “contempladas análises aprofundadas sobre os principais agravos pesquisados, verificando efeitos de diferentes contextos e analisando tendências temporais. A cárie dentária, sem dúvida o agravo bucal mais prevalente, está presente em cinco artigos que analisam as tendências em adultos desde 1986, os determinantes individuais e contextuais em diferentes grupos etários, a cárie radicular e as sequelas mutiladoras como as perdas dentárias. A doença periodontal é analisada do ponto de vista das desigualdades sociais em uma abordagem multinível e a fluorose e as oclusopatias são objeto de dois artigos cada. Estão ainda incluídas análises sobre indicadores de autopercepção de saúde bucal e de acesso a serviços odontológicos. Com relação às características mais gerais do inquérito, a política de vigilância em saúde bucal no Brasil é também objeto de análise e o SB Brasil 2010 é avaliado com relação à sua contribuição aos modelos de gestão e aos seus aspectos éticos. Considerações metodológicas estão também incluídas, com o detalhamento do processo de ponderação e efeitos do delineamento, além de uma proposta para lidar com escalas de renda em inquéritos”.

 
É para conhecer esta produção acadêmica brasileira no campo da saúde bucal coletiva que convido interessados a acessar esta edição especial da Revista de Saúde Pública, pois, ao lado de vários outros estudos que já começam a aparecer em importantes revistas científicas no Brasil e no exterior, complementa de modo importante o relatório final da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal 2010. As versões eletrônicas dos artigos que compõem este número da RSP estão disponíveis para livre acesso AQUI.

 
O conjunto da edição é o que Oswald de Andrade qualificaria como “biscoito fino”. Recomendo desfrutar.

 
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(*) Paulo Capel Narvai é cirurgião-dentista sanitarista e professor titular de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

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